A aclimatação
O homem aclimata-se a uma altitude elevada por modificações do seu sangue e dos sistemas circulatório, respiratório, esquelético e muscular.
Os glóbulos vermelhos respondem ao abaixamento da pressão barométrica multiplicando-se. A acomodação faz-se rapidamente.
Ao mesmo tempo, a pele protege-se contra a luz da neve por uma intensa pigmentação.
O tórax e os músculos do peito desenvolvem-se. Após alguns meses de vida activa nas altas montanhas, o sistema muscular habitua-se ao maior esforço da marcha e à escalada dos rochedos. A forma e a altitude do corpo modificam-se.
O aparelho circulatório e o coração habituam-se também ao exercício que se lhes pede.
Ao mesmo tempo, o organismo adquire resistência ao frio, e chega, pelo aperfeiçoamento dos processos reguladores da temperatura do meio interno, a suportar todas as intempéries.
Quando os indivíduos aclimatados na montanha regressam à planície, o seu sangue volta à normalidade. Mas conservam sempre os vestígios da adaptação do seu tórax, dos seus pulmões, do seu coração e dos seus vasos a uma atmosfera rarefeita, à luta contra o frio, ao esforço do todo o corpo reclamado pela ascensão quotidiana das montanhas.
Uma actividade muscular intensa produz, por si só, modificações permanentes do organismo.
O mesmo sucede com o trabalho intelectual. Um esforço mental continuado deixa a sua marca no indivíduo. Esse tipo de actividade é quase impossível no estado de mecanização em que se encontra a educação.
Se é realizável naqueles grupos, como os primeiros discípulos de Pasteur, que são inspirados por um ideal ardente, pela vontade de saber.
Existe ainda uma forma mais subtil, menos conhecida, de acomodação ao meio das actividades orgânicas e mentais.
É a resposta do corpo às substâncias químicas contidas nos alimentos. Sabemos que nas populações dos países em que a água é rica de cálcio, o esqueleto se torna mais pesado do que nas regiões em que a água é completamente pura.
Sabe-se também que os indivíduos alimentados com leite, ovos, legumes, cereais e água diferem dos que se alimentam sobretudo a carne, vinho, cerveja ou álcool. Mas ignoramos os caracteres orgânicos desta adaptação.
É provável que a constituição das glândulas e do sistema nervoso se modifique segundo as formas de alimentação, que as actividades mentais variem ao mesmo tempo que a forma e as dimensões do corpo.
Por isso é conveniente seguir as doutrinas médicas e higienistas. Mas nem sempre.
O progresso da humanidade não sairá certamente do aumento do peso nem da longevidade dos indivíduos.
Dir-se-ia que o trabalho dos mecanismos da climatização e da adaptação estimula todas as funções orgânicas.
As pessoas enfraquecidas, os convalescentes, acham-se bem com uma mudança momentânea de clima.
Certas modificações nos hábitos de vida, na alimentação, no sono, no habitat, são úteis.
A acomodação a novas condições de existência aumenta momentaneamente a actividade dos processos fisiológicos mentais. A rapidez com que se produz a adaptação depende do ritmo do tempo fisiológico.
As crianças respondem imediatamente a uma mudança de clima. Os adultos muito mais lentamente. Para que possa produzir resultados duráveis, é preciso que a acção do meio seja prolongada.
A acomodação a uma disciplina fisiológica, intelectual e moral determina no sistema nervoso, nas glândulas endócrinas e na consciência modificações definitivas, dando ao organismo uma melhor integração, maior vigor, e mais aptidão para vencer os obstáculos e os perigos da existência.
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