Actividades da consciência

As actividades da consciência são tão profundamente influenciadas pelo meio social como pelos fluidos do nosso corpo. O exercício fortifica-as tanto como às actividades fisiológicas.

Forçadas pelas necessidades ordinárias da vida, os órgãos, os ossos e os músculos funcionam sem descanso. Portanto, desenvolvem-se espontaneamente. Mas este desenvolvimento é mais ou menos completo, segundo o género de existência.

A conformação orgânica muscular e esquelética dum guia dos Alpes é muito superior à dum habitante de qualquer cidade. Não obstante, este último possui actividades fisiológicas suficientes para a sua existência sedentária.

O mesmo não sucede com as actividades mentais, que não se desenvolvem nunca espontaneamente. O filho do sábio não herda nenhuns dos conhecimentos do pai. Abandonado, sozinho, numa ilha deserta, não seria superior aos nossos antepassados de Cro-Magnon.

As funções mentais conservam-se virtuais enquanto lhes falta a educação e um meio em que a inteligência, o senso moral, o sentido estético e o sentido religioso dos nossos antepassados deixaram os seus vestígios.

É o carácter do meio psicológico que, em grande parte, determina o número, a qualidade e a intensidade das manifestações da consciência de cada indivíduo. Se esse meio é demasiado pobre, essas actividades tornam-se viciosas.

Estamos imersos no meio social, tal como as células do corpo nos fluidos orgânicos. Como elas, não podemos furtar-nos à influência do que nos rodeia.

O corpo protege-se melhor do mundo cósmico do que a consciência se protege do mundo psicológico. Aquele defende-se das incursões dos agentes físicos e químicos; a consciência, pelo contrário, tem fronteiras completamente abertas e está exposta a todas as incursões intelectuais e espirituais do meio social. Segundo a natureza dessas incursões, desenvolver-se-á normal ou defeituosamente.

A inteligência de cada um depende, em grande parte, da educação recebida, do meio em que vive, da sua disciplina interior e das ideias correntes na época e no grupo de que faz parte. Forma-se pelo estudo metódico das humanidades e das ciências, pelos hábitos lógicos do pensamento, pelo emprego da linguagem matemática.

Os professores primários, secundários e universitários, as bibliotecas e os laboratórios, os livros, revistas e jornais, bastam ao desenvolvimento do espírito. Mesmo na falta de professores, os livros podem bastar: é possível viver num meio social pouco inteligente e possuir uma elevada cultura.

A formação do espírito é, em suma, fácil. O mesmo não acontece com a formação das actividades morais, estéticas e religiosas; a influência do meio sobre estes aspectos da consciência é muito mais subtil. Não é assistindo a um curso que se aprende a distinguir o bem do mal, o feio do belo.

A moral, a arte e a religião não se ensinam como a gramática, a matemática e a história. Compreender e sentir são duas coisas profundamente diferentes.

O ensino formal nunca atinge senão a inteligência. Não é possível aprofundar o significado da moral, da arte e da mística, senão nos meios em que estas coisas estão presentes e fazem parte da vida quotidianas de cada um.

Ao desenvolvimento da inteligência basta o exercício, ao passo que as actividades da consciência exigem um meio, um grupo de seres humanos em cuja existência se achem incorporadas.

* A todos desejamos uma Santa Páscoa,