Adaptação corporal - I

O sistema nervoso central recebe do mundo cósmico, além dos raios luminosos, as mais variadas excitações. Como também as recebe do seu meio envolvente.

Estamos na posição duma chapa fotográfica que devesse registar de modo igual intensidades luminosas muito diferentes.

Para este caso, regular-se-ia o efeito da luz sobre a chapa por meio dum diafragma e dum tempo de pose apropriado.

O organismo emprega outro método; adapta-se à intensidade variável das excitações diminuindo ou aumentando a sua receptividade.

A retina, exposta a uma luz intensa, perde, como é sabido, grande parte da sua sensibilidade.

Igualmente, a mucosa olfactiva, ao fim de pouco tempo, deixa de ser sensível a um mau cheiro.

Um ruído intenso, se for contínuo, ou se se reproduzir num ritmo uniforme, deixa de nos incomodar.

P bramir do mar nos rochedos ou o rodar dum comboio não perturba o sono. Apenas damos conta das variações da intensidade das excitações.

Weber pensava que, se o estímulo aumentar em progressão geométrica, a sensação só aumenta em progressão aritmética.

A intensidade da sensação aumenta, pois, muito mais lentamente do que a da excitação.

Visto sermos afectados, não pela intensidade absoluta dum estímulo, mas sim pela diferença da intensidade de duas excitações sucessivas, esse mecanismo protege de facto o nosso sistema nervoso.

Embora a lei Weber não seja exacta, exprime contudo aproximadamente o que se passa.

A civilização criou excitantes contra os quais não sabemos defender-nos.

Lutamos mal contra o ruído das grandes cidades e das fábricas, contra a agitação da vida moderna, contra a inquietação, contra a multiplicidade das ocupações.

Não nos habituamos a dormir menos, bem pelo contrário.

Somos incapazes de resistir aos hipnóticos.

Mas esta adaptação provoca transformações orgânicas e mentais, que constituem uma verdadeira degradação do homem civilizado.