Adaptação corporal - II

Estas modificações permanentes do corpo e da consciência são produzidas pela adaptação. Por este processo, o meio põe no homem a sua marca. Quando age lentamente sobre indivíduos novos, esta marca é indelével. É assim que novos aspectos estruturais e mentais aparecem tanto no indivíduo como na etnia.

Dir-se-ia que o plasma germinativo sofre pouco a pouco a influência do meio. Tais modificações são naturalmente hereditárias.

É certo que o indivíduo não transmite aos seus descendentes os caracteres que adquiriu. Mas os seus humores modificam-se necessariamente ao sabor do mundo cósmico.

E, como as, as suas células sexuais adaptam-se a esta modificação do meio interno.

As plantas, as árvores, os animais e os seres humanos da França diferem bastante dos de Portugal.

Uns e outros têm o sinal específico do solo. Na época em que a população da cada aldeia se alimentava exclusivamente dos seus próprios produtos, o seu aspecto variava mais de província para província.

A acomodação à sede e à fome observa-se claramente nos animais. As vacas do deserto do Arizona habituam-se a não beber durante três a quatro dias.

Um cão pode conservar-se gordo e de perfeita saúde não comendo senão duas vezes por semana. Os animais que bebem raramente aprendem a beber muito. E os seus tecidos passam a reter a água em grande quantidade, e durante muito tempo.

Aqueles que estão sujeitos ao jejum acostumam-se a absorver num ou em dois dias quantidade de comida suficiente para o resto da semana.

O mesmo acontece com o sono. Podemos habituar-nos a não dormir, ou a dormir muito pouco durante um certo período, e a dormir muito durante outro.

É também fácil adaptarmo-nos a um excesso de alimentação e de bebida. Se se der a uma criança tanta comida quanta ela puder absorver, acostumar-se-á a comer com uma abundância inútil, e depois não poderá libertar-se desse hábito.

Não se conhecem ainda todas as consequências orgânicas e mentais destes excessos alimentares. Sabe-se apenas que se manifestam por um aumento de volume e de estrutura do esqueleto, e por uma diminuição da actividade geral do indivíduo.

Não se pode garantir que os hábitos regulares da vida moderna levam ao máximo desenvolvimento dos seres humanos. Adoptamos esta maneira de viver, porque é cómoda e agradável.

É sem dúvida diferente da dos nossos antepassados e dos grupos humanos que não gozavam ainda da civilização industrial. Mas pode duvidar-se de que seja melhor, porque cada vez se alarga mais o fosso entre ricos e pobres. Alguém duvidará?