Alterações orgânicas

Como é evidente, as actividades mentais dependem das fisiológicas. É possível observar as modificações orgânicas que correspondem à sensação dos nossos estados de consciência.

Inversamente, há fenómenos psicológicos determinados por estados funcionais dos órgãos. Em suma: o conjunto formado pelo corpo e pela consciência tanto pode ser modificado por fenómenos orgânicos como por fenómenos mentais.

O espírito e o organismo confundem-se, tal como a forma e o mármore numa estátua. Não se poderia mudar a forma sem partir o mármore.

Supõe-se que a sede das actividades psicológicas é o cérebro, porque uma lesão desse órgão produz perturbações imediatas e profundas na consciência.

É provavelmente por meio das células cerebrais que o espírito se insinua na matéria.

Na criança, a inteligência e o cérebro desenvolvem-se simultaneamente.

Quando se dá a atrofia senil dos centros nervosos, a inteligência diminui. A presença das espiroquetas da sífilis em redor das células piramidais provoca o delírio das grandezas.

Quando o vírus da encefalite letárgica ataca os núcleos centrais, dão-se perturbações profundas da personalidade.

Sob a influência do álcool que, juntamente com o sangue, atinge as células cerebrais, dão-se modificações temporárias da actividade mental.

A queda da tensão arterial, provocada por uma hemorragia, suprime as actividades da consciência. Em resumo, observa-se que a vida mental depende do estado do cérebro.

Estas observações não bastam para demonstrar que o cérebro constitua, por si só, o órgão da consciência.

Com efeito, os centros cerebrais não são exclusivamente compostos de meteria nervosa: consistem também num meio no qual as células estão imersas, e cuja composição é regulada pelo soro sanguíneo. E este depende das secreções glandulares espalhadas por todo o corpo.

Todos os órgãos se encontram, portanto, presentes no córtex cerebral por intermédio do sangue e da linfa.

Os nossos estados de consciência estão ligados identicamente à constituição química dos humores e do cérebro, e a estrutura das células.

Quando o meio interior fica privado das secreções das glândulas supra-renais, o doente cai numa depressão profunda. As perturbações da glândula tiróide trazem consigo quer a excitação nervosa e mental, quer a apatia.

Nas famílias em que as lesões desta glândula são hereditárias, há idiotas morais, imbecis e criminosos.

Todos sabem até que ponto as doenças do fígado, do estômago e do intestino modificam a personalidade das pessoas.

É fora de dúvida que as células dos órgãos descarregam no meio interior substâncias que agem sobre a nossa actividade mental e espiritual.