Aquisição do conhecimento

Para adquirir melhor conhecimento de nós próprios, não basta escolher, na massa dos dados que já possuímos, os que são positivos, e realizar com o seu auxílio um inventário completo das actividades humanas.

Tão-pouco basta precisar ainda mais essas noções por meio de novas observações e experiências, e edificar uma verdadeira ciência do homem. É sobretudo necessário, graças a esses documentos, construir uma síntese utilizável.

Com efeito, a finalidade desse conhecimento não está em satisfazer a nossa curiosidade, mas na reconstrução de nós próprios, na modificação do nosso meio num sentido que nos seja favorável.

Numa palavra: esse fim é prático. Seria, portanto, inútil acumular grande quantidade de novos dados, se tais dados se destinassem a ficar dispersos no cérebro ou nos livros dos especialistas.

A posse dum dicionário não dá ao seu proprietário a cultura. Literária ou filosófica. É preciso que as nossas ideias sejam reunidas num todo vivo na inteligência e na memória de alguns indivíduos.

Desse modo, os esforços que a humanidade fez e continuará a fazer para melhor se conhecer tornar-se-ão fecundos.

A ciência do homem será a tarefa do futuro. Por agora devemos contentar-nos com a iniciação, ao mesmo tempo analítica e sintética, nesses caracteres do ser humano que a crítica científica nos fez reconhecer como reais.

É verdade que esse conhecimento é ineficiente, mas seguro. Não contém elementos metafísicos. É, além disso, empírico, porque a escolha e a ordem das observações não são guiadas por qualquer princípio.

Os diferentes aspectos do homem são considerados tão simplesmente como, no decorrer da ascensão duma montanha, não se contemplam os rochedos, as torrentes, os prados e os pinheiros, e, acima da sombra do vale, a luz dos cumes.

É ao acaso que o caminho que, em ambos os casos, são feitas as observações. E contudo tais observações são científicas.

Constituem um corpo mais ou menos sistemático de conhecimentos, embora não tenham a precisão desejada.

Sabe-se, por exemplo, que os homens são providos de memória e de sentido estético. E também que o pâncreas segrega insulina, que certas lesões mentais dependem de lesões do cérebro, que certos indivíduos revelam fenómenos de vidência.

Pode medir-se a memória e a actividade da insulina, mas não a emoção estética e o senso moral.

As revelações das doenças mentais e do cérebro, os caracteres da telepatia, não são ainda susceptíveis dum estudo exacto.
Contudo, todos estes dados, embora aproximativos, são certos.