Doença de Alzheimer e solidariedade familiar

Em França, a doença de Alzheimer acaba de ser declarada a grande causa nacional para 2007. Feito isto, o primeiro-ministro anunciou toda a espécie de disposições para melhorar a despistagem precoce, a pesquisa e o número de lugares em instituições. Mas, será isto suficiente?
A realidade da doença vivida no quotidiano pelas famílias revela-se toda uma outra.: sofrem, antes do mais, do sentimento de serem os únicos a fazer face a um verdadeiro desfio: manter a flutuar e na dignidade em conjunto, um pai ou uma mãe em vias de se perder num outro mundo. A ajuda familiar, natural, primordial e principal malha do tecido social, mas não reconhecida no seu justo valor, não deverá beneficiar de financiamentos duma ou doutra forma. Em Portugal, onde a saúde está cada vez mais doente, para já e a não ser algumas carolices de algumas pessoas, os mais pobres nada teriam.
Vivemos cada vez mais tempo. A medicina oferece-nos a esperança de vida de 83 anos para as mulheres e de 78 para os homens. Este aumento da vida favorece um grande número, mas é responsável dum crescimento exponencial do número de pessoas atingidas por Alzheimer. O progresso gerado dá, mecanicamente esta terrível patologia à escala epidémica. Hoje, perto de 800 mil, pessoas sofrem, com perda de memória primeiro, desorientação, confusão e dependência…
Ora, vamos continuar a ganhar esperança de vida, com ainda mais pacientes idosos atingidos de demência: 20% das pessoas com mais de 80 anos estão atingidos.
Se o objectivo é encontrar medicamentos, vacinas, nenhum prazo é fixado para eventuais descobertas. A família está na primeira linha para se ocupar das pessoas idosas dependentes.
Apesar duma tomada de consciência, a sociedade ainda mede mal as consequências desta epidemia. Um primeiro plano Alzheimer foi anunciado em 2004 em França, a locação autonómica desenvolveu-se, licenças sem vencimento vão tornar-se legais a partir de Janeiro 2007. É um princípio lento e insuficiente.
Os pais duma criança que acaba de nascer beneficiam de diversos apoios; abonos, creches, jardins de infância… quando os próximos da pessoa idosa dependente estão longe de beneficiar da mesma ajuda. Percurso do combatente para encontrar uma ajuda doméstica, obter financiamentos de apoio domiciliário ou, mais tarde, um lugar no “asilo”.
Fazem-se bons discursos, mas continua-se a reboque. Por exemplo, na Suécia, os locais de acolhimento temporários – Centros de Dia – quase inexistentes em Portugal, a não ser para quem possa pagar muito bem – estão disponíveis em todos os municípios. Os serviços de apoio domiciliário desenvolvidos, são facilmente acessíveis.
Os que prestam esse apoio domiciliário são reconhecidos pela lei e, a este título, recebem importantes subvenções. Alguns municípios suecos oferecem mesmo esses prestadores de cuidados domiciliários aos fins-de-semana.
Por que não imaginar, em Portugal, deduções fiscais para os filhos ou cônjuges dos doentes para poderem mantê-los em casa? Por que não apoiar e multiplicar as estruturas de dia, pouco onerosas, para evitar a colocação em instituições que até nem existem ou então em muito pouca quantidade? É sempre mais satisfatório que a manutenção no domicílio ou então em Centros de Dia que providenciem apoio domiciliário, privilegiando o voluntariado, que cada vez se mostra mais sólido e perene.
A continuação destas políticas económicas e economicistas poderão, a médio prazo favorecer movimentos pró-eutanásia.
A ajuda de Associações oferece benefícios humanos e económicos. Está provado que as pessoas afectadas beneficiam com uma envolvência afectiva e educada para a gestão das suas perturbações, evoluindo mais lentamente para a demência.
Um ambiente pacífico dividirá por dois a necessidade de internamentos hospitalares.
Em Portugal são raras as instituições que se dediquem a esta actividade e as que pretendem fazê-lo muitas vezes esbarram com mil e uma dificuldades na angariação de espaços onde se estabelecer.
A PORTUSASAS agradece à Junta de Freguesia de Paranhos, ao seu executivo, que se tem desdobrado no sentido de poder proporcionar as instalações necessárias para a abertura de um Centro de atendimento a todos os que nela habitam e sintam necessidade dos seus préstimos. E depois e também para a abertura dum Centro de Dia para que os familiares possam continuar a exercer, sem entraves, a sua actividade profissional e, consequentemente, garantir a sua e dos seus, sobrevivência. Os afectados de demências, em todos os seus graus irão brevemente encontrar em nós um local de acolhimento diário.
Nascemos pobres e não pretendemos ser ricos, a não ser nos serviços prestados à comunidade de Paranhos.