Eutanásia

Com esta sonora e um tanto ou quanto cabalística palavra, a desfiar os augures da sibila, quer dizer-se a ciência de bem morrer.

Quem nasce tem de se finar um dia. Mas esse dia só é marcado por Deus e não deve o homem arrogar-se o direito de o antecipar.

O nosso organismo há-de desorganizar-se, sejam quais forem os processos que se adoptem.

Chega por fim o tempo da destruição aparente para dar lugar a outras vidas.

Lucrécio, o célebre poeta, há quantos séculos não escreveu a actual lei de Lavoisier?

A morte é fatal, mas há muitos modos de morrer.

Uns, tanto se envenenam em vida com drogas farmacêuticas, de copa, de cozinha ou de contrabando, que a doença finalizante é terrível e penosíssima.

Outros levam uma existência pacata, não se enchem de vícios nem de maus hábitos e, quando a Parca lhes corta o fio da longa existência finam-se como um passarinho sem nenhum sofrimento.

Um velho padre, que havia assistido ao pensamento de muitas pessoas disse:

“Nada há de mais torturante que ver soltar o último suspiro a um rico; ao passo que os últimos momentos dum pobre podem comparar-se a um adormecer pacífico”.

Há quem julgue que se morre sem sofrimento, com injecções deste ou daquele alcalóide.

Puro engano. Para se morrer sem sofrer é necessário ter seguido o naturismo também.

Em vez de envenenar o doente, é preferível consolar os enfermos no extremo da agonia, com sumos de frutos aquosos que desintoxicam e conduzem a um fim natural.

Para se acabar com a vida em condições fisiológicas é preciso viver antecipadamente conforma a natureza que Deus nos deu.

Bem morrer representa, pois, a maior conquista do sistema de vida.