Funções adaptativas

A adaptação, para atingir os seus fins, utiliza múltiplas formas. Nunca se localiza numa região ou num órgão, mas põe em movimento todo o corpo.

A cólera, por exemplo, provoca modificações de todos os sistemas orgânicos; os músculos contraem-se; os nervos do grande simpático e as glândulas supra-renais entram em acção produzindo a elevação da tensão arterial, e aceleração das pulsações do coração, a libertação pelo fígado da glicose, que será empregada pelos músculos como combustível.

Do mesmo modo, quando o organismo luta contra o arrefecimento da pele, os aparelhos circulatório, digestivo, muscular e nervoso são mobilizados.

Em suma: o corpo responde às modificações do meio externo, ponde em movimento a maior parte das suas actividades.

O exercício das funções adaptativas é tão necessário ao desenvolvimento do corpo e da consciência como ao dos músculos o esforço físico.

A acomodação às intempéries, à falta de sono, à fadiga, à fome, estimula todos os processos fisiológicos.

Os fenómenos de adaptação tendem para um fim. Mas nem sempre o atingem. Não são exactos. Só agem dentro de certos limites.

Cada indivíduo tolera apenas um certo número de bactérias. Para além deste número e desta virulência, as funções adaptativas deixam de ser eficientes.

Declara-se a doença. O mesmo acontece com a resistência à fadiga, ao calor e ao frio. É fora de dúvida que o poder de adaptação, tal como as outras actividades fisiológicas, aumenta com o exercício, e, como elas, é perfectível.

Em vez de conjurar as doenças protegendo unicamente os indivíduos contra os seus agentes, é preciso tornar cada um susceptível de se proteger a si próprio, aumentando artificialmente a eficácia das funções adaptativas.

Em resumo: considera-se a adaptação como sendo a expressão das propriedades fundamentais dos tecidos, como um aspecto da nutrição.

Os processos fisiológicos modificam-se de tantas maneiras diferentes quantas as situações novas e imprevistas se lhes depararem.

Modelam-se pelo fim a atingir. Não parecem calcular o tempo e o espaço do mesmo modo que a nossa inteligência. Os tecidos ordenam-se tão facilmente em relação a configurações espaciais já existentes como em relação àquelas que não existem ainda.

No desenvolvimento do embrião, a vesícula óptica, que provém do cérebro, e o cristalino, que provém da pele, combinam-se desde logo em função dum olho que ainda é virtual.

A adaptabilidade é, ao mesmo tempo, uma característica dos elementos dos tecidos, dos próprios tecidos e de todo o organismo.

Os elementos parecem agir no interesse do conjunto, tal como as abelhas que trabalham para a sua comunidade. Parecem ter conhecimento do futuro, e preparam-se para esse futuro por modificações antecipadas da sua forma e das suas funções.