Célula nervosa ou neurónio
Uma morfologia ao serviço duma função: o tratamento da informação, extraído de “Recherche en Tête”, revista da Federation pour la Recherche sur le Cerveau”.
1 – O sistema nervoso faz a ligação entre um organismo e sua envolvência exterior, integrando as diferentes informações provenientes dos órgãos dos sentidos, para produzir uma resposta comportamental adaptada. No seio deste sistema, o neurónio é a unidade funcional, cada um estando equipado para receber, integrar e transmitir a informação. Quaisquer que sejam a sua forma, o seu tamanho ou a sua localização, o neurónio, é sempre formado por três elementos:
I – Os dendritos, que são prolongamentos múltiplos e ramificados que convergem para o corpo celular.
II – O corpo celular é uma pequena massa de citoplasma, de formas variadas (cónica, esférica, piramidal, fusiforme, estrelada), que contém o núcleo.
III – O axiónio, que é um prolongamento único que parte do corpo celular e termina a uma distância mais ou menos afastada deste (podendo atingir um metro) numa arborização terminal que estabelece contactos com as células alvo. Esta zona de comunicação especializada é chamada sinapse.
2 – Sob o efeito dum estímulo, movimentos de iões, através da membrana celular, desencadeiam um influxo nervoso que é veiculado pelo axiónio até à extremidade do neurónio. A chegada do influxo ao nível da sinapse provoca a libertação extra-celular dum neuromediador que, segundo a sua natureza, vai activar ou inibir a actividade da célula alvo. O cérebro contém vários milhares de neurónios, cada um podendo estabelecer conexões com milhares de outros. O papel funcional do neurónio é, pois, indissociável do sistema nervoso, em interacção com o resto do organismo, repousa sobre a organização e o funcionamento das redes neuronais e mantém-se numa aposta máxima da pesquisa científica e médica actual. Algumas doenças neurológicas são caracterizadas pela degenerescência selectiva duma população de neurónios.
Assim, são os neurónios de acetilcolina do hipocampo que estão deteriorados na doença de Alzheimer, os de dopamina da substância negra da doença de Parkinson, ou ainda os motoneurónios do tronco cerebral na esclerose lateral amiotrófica. As causas destas patologias são ainda mal conhecidas, mas novas esperanças terapêuticas nascem com a perspectiva de estimular a regenerescência dos neurónios atingidos.
3 – A história da célula nervosa inicia-se em 1780, quando Van Leeuwnhoek observa, graças ao microscópio, de sua invenção, a estrutura das fibras nervosas.
4 – Mais dum século se passa antes que os corpos celulares, depois os dendritos, sejam descritos separadamente por Dutrochet e Valentin. Finalmente, a representação moderna do neurónio, reunindo estes diferentes elementos, é proposta em 1865 numa obra póstuma de Deiters.
5 – A partir de 1870, um debate é lançado sobre a natureza contínua ou contígua das relações entre células nervosas. Segundo a teoria reticular, enunciada por Gerlach e Golgi, o tecido nervoso é formado por uma vasta rede filamentosa contínua. Pelo contrário, segundo a teoria neuronal, arduamente defendida por Ramojn Y Cajal, é composto por elementos celulares independentes em relação da contiguidade. O termo “neurónio” é introduzido a partir de 1891 por Waldeyer, enquanto na sinapse aparece em 1897 sob a caneta de Sherington. No princípio do século XX, Ramon Y Cajal fornece numerosas descrições histológicas dos diferentes tipos de neurónios.
& - Todavia, e apesar da acumulação de observações estabelecendo a tese neuronal, só em 1954, graças à precisão nova, fornecida pela microscopia electrónica, que Palay e Palade observam pela primeira vez a morfologia fina duma sinapse, colocando o tema definitivo em debate.
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