Diagnóstico das doenças

Haverá necessidade de classificar as doenças, tendo todas fundamento nas impurezas e maus humores do sangue?

É evidente que não, porque a unidade da doença é justamente certa e acha-se em correspondência com a unidade da terapêutica.

Estas renovadas concepções da enfermidade, segundo todos os médicos, desde Hipócrates, têm-se conservado mais ou menos puras nas suas excelentes doutrinas, que andam também na tradição popular, expressas em conceituosos e velhos processos de cura.

Hipócrates, que nasceu na ilha de Cós, 460 anos antes de Cristo, pertencia à família dos Asclepíadas, a qual, desde a mais alta antiguidade, conservava, como uma herança, a arte de curar.

A sua escola, consagrada por sábios como Platão, o filósofo insigne, e Sócrates, o estóico, é a primeira que aparece, e é ainda hoje verdadeiramente a única.

A doutrina hipocrática foi o início da medicina; e é, na opinião dos melhores autores, a mais justa.

Pelo vitalismo, mas sobretudo pelo humanismo e pelo naturismo, as doutrinas do pai da medicina perpetuam-se ainda hoje por mais que se invente.

É este o tripé em que assenta a actual medicina.

A força vital, que anima as células, sendo perturbada pelos humores pecantes, quer dizer, pelos tóxicos do sangue, só pode ser regenerada pela crise natural, que é a modificação e a eliminação dos humores viciados, ou seja, pela evacuação de tudo quanto é supérfluo e prejudicial à vida.

A terapia hipocrática era disolver e ajudar a resolver os humores pelo local escolhido pela natureza.

Usava banhos, a mudança de clima, a alimentação singela, os meios caseiros actuais, tudo, enfim, que pudesse favorecer os actos medicadores, os movimentos espontâneos, as crises, que produzem a cura dos estados mórbidos.

O hipocrismo, com o seu humorismo, ficará a ser a pedra angular do edifício médico, diz o sábio Professor Bouchard, da Universidade de Paris.

A medicina ortodoxa preocupa-se muito mais com o diagnóstico que com a cura de qualquer entidade nosológica: é um mal.

É o que o médico moderno procura principalmente saber em milhares de livros que há sobre este assunto na literatura profissional.

Entretanto, todo o amontoamento desses trabalhos na descoberta dos sintomas e sua exploração, pouco alcance patognomónico tem para quem compreenda a natureza.

Pode ser preciso o diagnóstico e é talvez útil para aprazimento próprio, do doente e da família.

Saber que doença se tem, denominá-la, classificá-la, apresentá-la com cores mais ou menos dramáticas, é um desporto de novo género, empregando termos mais ou menos esdrúxulos e sibilinos de origem grega e de composição arrevezada.