Regresso à natureza - II

A natureza possui no seu seio corpos minerais, vegetais e animais. De todos se serve e aproveita o homem; mas é principalmente ao reino vegetal que vai buscar as matérias de que precisa para as suas descobertas.

A paisagem sem árvores é o deserto creul.

O homem apesar de ter destruído as florestas, sem elas não é nada, nem nada pode ser. As árvores são as nossas melhores companheiras.

Do grande erro arboricída resultam desvios alimentícios que continuadamente se fazem sentir.

Todos os atentados contra a natureza, sobretudo contra as árvores, que são o elemento essencial à vida terrestre, são determinantes de sérias alterações.

O homem apareceu na terra antes do período glaciar, na mesma quadra em que surgiram as árvores de fruto, as quais tem por irmãs: é à sua sombra que ele descansa, é sobre as suas folhas que dorme, é dos seus frutos que devia viver. As árvores dão a saúde e a vida.

Apesar da civilização que nos deu o conforto tantas vezes nocivo da moradia e dos leitos metidos em alcovas sem luz nem ar; apesar dos alimentos alterados e dos vestuários os mais estranhos, é sempre do reino vegetal que o homem tem e terá que se utilizar.

Aproximar-se da natureza quer dizer abraçar as plantas e com elas viver, porque toda a árvore serve pelos seus frutos de sustento ao homem.

O apelo de Regresso à natureza não é atentatório dos progressos da humanidade.

Não se procura fazer voltar a humanidade ao estado inicial da barbárie e selvajaria, quando os homens hercúleos, sórdidos, incultos viviam em promiscuidade nos bosques e nas cavernas.

Seria um erro compreender ou supor tal. Unicamente se procura com este brado por a claro um problema que, na sua latitude e no seu desenvolvimento, pretende ser a solução equilibrada à luz da ciência, da qual a melhor maneira de viver – se a hipercivilização, se a vida simples dos nossos primeiros pais.

O que é a natureza? É a montanha com os ribeiros e as torrentes; é a planície com os seus Arroios; o vale com as suas árvores pujantes; o sol com seus raios revigorantes; é o ar que respiramos, absorvemos e até capitalizamos; é a própria terra no solo que pisamos. A natureza é tudo.

Somos nós próprios, quando do seu seio nos aproximamos; são os nossos antecessores, que tanto a amavam, por estarem ainda mais perto dela; são as aves chilreantes nos ramos onde saltitam por entre a folhagem; são os insectos zumbindo como as abelhas operosas; e os peixes nadando no seio das águas cristalinas.

A natureza é o mar patente com as suas algas, arredando-se de flocos de espuma sobre o ouro das areias.
São da natureza as nuvens que sobem pelo espaço com evolucionantes transformações cíclicas da água em evaporação lenta.

É da natureza a aurora argentina quando o sol, ainda abaixo do horizonte, deriva o nascente ao longe.

É da natureza o crepúsculo nostálgico quando o astro supremo mergulha, no seu carro fulvo sobre a montanha distante ao findar o dia.

É da natureza o luar prateado que transforma a paisagem imaterializando-a, polvilhando-a de graças, pelas noites cheias de harmonia e amor.

É da natureza o sorriso das crianças, fonte e condensação da alegria dos pais.

É da natureza a flor que, altiva ou humilde, abriu as suas corolas multiformes para o nosso prazer e deleite.

O poeta que desfere a sua lira e entoa as suas canções, que mais canta que não seja a natureza?

E o músico não procura imitar o trinado das aves ou sons da voz humana, nas suas melodias e composições?