Vida interior

Essa coisa privada, escondida, que não se pode partilhar, não democrática, é considerada como pecado pelo conservantismo de muitos educadores.

Contudo, é dela que provém toda a originalidade e todas as grandes acções. Só ela permite ao indivíduo conservar a sua personalidade no meio da multidão.

Ela assegura a liberdade do seu espírito e o equilíbrio do seu sistema nervoso na desordem da cidade moderna.

Os factores mentais actuam diferentemente em cada indivíduo. Somente devem ser empregados por aqueles que compreendem as particularidades orgânicas e cerebrais de cada ser humano.

Segundo é fraco, forte, sensível, generoso, egoísta, inteligente, estúpido, apático, vivo, cada um reage a seu modo ao mesmo estímulo mental.

Estes processos delicados não podem empregar-se às cegas na construção de cada organismo.

Existem, no entanto, condições económicas e sociais que agem uniformemente sobre todos os indivíduos dum grupo ou duma nação.

Os sociólogos e os economistas não devem, pois, modificar as condições de vida, sem considerar os efeitos psicológicos dessa transformação.

É um dado elementar de observação que; a pobreza completa, a propriedade, a paz, a multidão ou o absoluto isolamento, não são favoráveis ao progresso humano.

O indivíduo atingiria provavelmente o seu máximo desenvolvimento na atmosfera mental criada por uma certa mistura de segurança económica, de ócio, de privações e de luta.

O efeito das condições de existência varia para cada etnia e para cada indivíduo.

Os acontecimentos que esmagam uns conduzem outros à revolta e à vitória. É preciso moldar o homem ao meio. Devemos dar aos sistemas orgânicos a atmosfera que os possa manter em plena actividade.

Os agentes psicológicos têm naturalmente um efeito muito mais acentuado nas crianças e nos adolescentes do que nos adultos.

É preciso empregá-los durante o período plástico da vida. Mas a sua influência, embora menos viva, persiste durante toda a existência.

Quando o organismo amadurece, quando o valor do tempo diminui, a sua importância aumenta.

O seu efeito é muito útil no corpo em via de envelhecimento. Pode recuar-se o momento da senectude, mantendo em estado de actividade o espírito e o corpo.

Durante a maturidade e a velhice, o homem necessita duma disciplina mais estrita do que na juventude. A deterioração prematura resulta muitas vezes do abandono de si próprio.

Os mesmos factores que auxiliaram a nossa formação podem retardar a nossa decadência.

Um emprego sagaz destes agentes psicológicos afastaria o momento do declínio orgânico e da derrocada dos tesouros intelectuais e morais no abismo da degenerescência senil.