A escolha - I

É também provável que a descendência dos criminosos que demonstraram imaginação, decisão e audácia, assim como a dos heróis da Revolução Francesa ou da Revolução russa, ou dos magnatas da finança ou da indústria, seja utilizável na construção duma elite empreendedora.

A criminalidade, como se sabe, não é hereditária, a não ser que esteja ligada à idiotia ou a outras deficiências mentais ou cerebrais.

É bem raro encontrar altas potencialidades nos filhos de pessoas honestas, inteligentes, séria, que não foram bem sucedidas na sua carreira, ou fizeram maus negócios, ou vegetaram durante a vida inteira em situações inferiores.

O mesmo se dá com os aldeões que habitam há séculos a mesma terra. Contudo, de tais meios surgem por vezes artistas, poetas, aventureiros, santos.

Uma família duma grande cidade, cujos membros são desconhecidos pelas suas brilhantes qualidades, descendendo de aldeões que cultivaram o mesmo pedaço de terra no sul da Europa, desde a época de Carlos Magno até à de Napoleão e até à actual.

A força e o talento podem aparecer em famílias nas quais nunca se mostraram. No homem como nos animais e nas plantas, produzem-se mutações.

Encontram-se, mesmo entre os proletários, indivíduos capazes dum alto desenvolvimento. Mas esse fenómeno é pouco frequente, por ser preferível ignorá-los.

Com efeito, a divisão da população dum país em diferentes classes não é feito ao acaso, nem das convenções sociais.

Tem uma profunda base biológica, pois depende das propriedades fisiológicas e mentais dos indivíduos.

Nos países livres, cada indivíduo teve, no passado, a possibilidade de se elevar até ao lugar que era capaz de conquistar ou bem ajudados a isso.

Aqueles que hoje são proletários devem, segundo certos pensamentos, a sua situação a defeitos hereditários do seu corpo e do seu espírito.

Igualmente, os aldeões, permanecem “voluntariamente” presos ao solo desde a Idade Média, porque possuíam a coragem, o juízo, a resistência, a falta de imaginação e de audácia que os tornaram aptos a esse género de vida.

Os antepassados desses cultivadores desconhecidos, amantes apaixonados do solo, soldados anónimos, armadura inabalável das nações da Europa, eram, apesar das suas grandes qualidades, duma constituição orgânica e mental mais fraca do que a dos melhores medievais que conquistaram a terra e a defenderam de todos os invasores.

Os primeiros tinham nascido servos. Os segundos, reis. Hoje é necessário que as classes sociais se tornem cada vez mais em classes biológicas.

Os indivíduos devem subir ou descer de nível a que os destina a qualidade dos tecidos e da sua alma. Diz-se por aí…

É preciso facilitar a ascensão daqueles que têm os melhores órgãos e o melhor espírito.

É preciso que cada um ocupe o seu lugar natural.

Os povos modernos podem salvar-se pelo desenvolvimento dos fortes. Também se diz. Não pela protecção dos fracos, sempre falhos de oportunidades de e para se fortalecerem. Será que todos usufruem das mesmas oportunidades, tal como deus propôs?