Meio orgânico

As células do sangue, glóbulos vermelhos e glóbulos brancos desempenham um papel capital na constituição do meio interior. Com efeito, o plasma só pode dissolver uma pequena quantidade de oxigénio do ar, e não poderia fornecer à imensa população das células encerradas no corpo o oxigénio de que elas precisam, se esse oxigénio não se fixasse nos glóbulos vermelhos.

Os glóbulos vermelhos não são células vivas, mas sim pequenos sacos cheios de hemoglobina. Na sua passagem pelos pulmões, recebem o oxigénio que, alguns instantes depois, será absorvido pelas ávidas células dos órgãos.

Ao mesmo tempo, estas abandonarão ao sangue o seu ácido carbónico, assim como outros resíduos. Os glóbulos brancos são, pelo contrário, células vivas, que umas vezes flutuam no plasma dos vasos, e outras os abandonam pelos interstícios dos capilares, subindo à superfície das células das membranas mucosas, dos intestinos, e de todos os órgãos.

É graças a estes elementos microscópicos que o sangue desempenha o seu papel de tecido móvel, de agente reparador num meio ao mesmo tempo sólido e líquido capaz de se dirigir onde a sua presença é necessária: pode acumular-se rapidamente, em torno dos micróbios que invadem uma região do organismo, grandes quantidades de leucócitos que combatem a infecção, e leva ainda, até ao nível das feridas da pele ou dos órgãos, os glóbulos brancos, que são um material virtual para a reconstrução dos tecidos.

Estes leucócitos têm o poder de se transformar em células fixas, células que podem suscitar à sua volta fibras conjuntivas que reparam, graças a uma sólida cicatriz, qualquer ferida dos tecidos.

Tanto os líquidos como as células que saem dos vasos capilares sanguíneos constituem o meio local dos tecidos e dos órgãos, meio cuja composição é, praticamente, impossível de estudar.

Quando se injectam num organismo, como fez Roux, substâncias cuja cor se modifica segundo a acidez jónica dos tecidos, vê-se tomarem os órgãos cores diferentes, sendo então possível descortinar a diversidade dos seus locais. Na realidade, essa diversidade é muito mais profunda do que o mostra este processo. Mas, é impossível conhecer todos os caracteres.

No vasto mundo que é o organismo humano, existem as regiões mais variadas; e, embora estas regiões sejam irrigadas por vasos do mesmo rio, a qualidade da água dos seus lagos e suas lagoas depende da constituição do solo e da natureza da vegetação.

Cada órgão e cada tecido cria o seu próprio meio à custa do plasma sanguíneo. Do ajustamento recíproco das células e do meio dependem a saúde ou doença, a força ou a fraqueza, a felicidade ou a infelicidade de cada um de nós.