Como se alcança a saúde

Ter saúde é fácil, mais fácil ainda do que se se julga. E quem tem saúde é verdadeiramente rico. Quantas pessoas se julgam superiores pelo talento, pelo dinheiro e pelo luxo, e entretanto invejam a saúde a qualquer camponês e desejariam ter os seus músculos de aço?

Em regra, a riqueza do nosso país está na razão inversa da saúde e da força.

Qualquer endinheirado respira o ar confinado da sua casa toda oculta dos raios de sol; expõe-se o menos possível ao ar e à luz, e como bebe sem vontade, tendo os músculos de lodo, os nervos de pólvora, as artérias quebradiças, e a pele estiolada porque, num grande número de casos, ter dinheiro, neste país, equivale a ser indolente.

E, por um atavismo cruel infiltrado na raça, quem arranja algum dinheiro, deita-se com a barriga cheia como um odre. Quem assim procede representa um valor nulo ou pouco menos.

Salvo o devido respeito, pode-se afiançar que adquirir a celebrada pança é o objectivo de quase todos os que deixam de trabalhar, ou vivem sedentários no emprego almejado, por trás duma secretária, ou na mesa orçamental, onde todo o plumitivo quer ir banquetear-se sem fazer nada.

O ventre dos conselheiros e dos ricaços representa a boa vida, a tal boa vida, que afinal é a pior de todas, porque simboliza a inércia.

As mãos da maior parte dessas pessoas, servem de mostruário de ourivesaria ambulante, e os arcos de ouro ostentosos e cafreais, onde joalheiros intercalam pedras de variado tom, impossibilitam o movimento fácil dos dedos.

Os pés da maioria dos abastados, deformados os dedos pelo calçado impróprio, andam continuamente nas mãos do calista, quando não nas do pedicuro.

Homens e mulheres deviam olhar seriamente para a questão do calçado, que para todos tem importância capital.

Pode-se calcular o atraso em que nos encontramos, pela dificuldade que há em obter sapatos de tiras entretecidas, que usam habitualmente os naturistas. É que os sapateiros só querem fazer calçado deteriorador dos pés, de formas irracionais, quando é certo que se devem usar sapatos ou botas vulgares, que sejam bem largas, para que os dedos se possm mexer à vontade, e cujos saltos sejam baixos.

Que série de males se evitavam se libertássemos os pés do flagelo dos estojos impermeáveis, onde se supliciam.

Umas sandálias, quando não fosse possível trazer os pés sobre a terra ou sobre o sobrado, tinham vantagens incalculáveis, podendo usar meias abertas, ou meias que se calçassem como as luvas, com os dedos separados.

O passeio, com os pés desnudados, na relva ou no lajedo húmido, é uma prática recomendável.

Quanto ao vestuário, deve ser simples e largo, lógico, para que os movimentos se operem com facilidade e sem estorvo algum. Nada de golas, que fazem transpirar o pescoço, nem camisas de goma. Não se deve trazer tanta roupa, que promova a transpiração. Há ainda o uso condenável das luvas que não deixam livres os movimentos dos dedos.

Concordamos, porém, que nem toda a gente pode fazer isto, mas quanta dama encosta o busto deformado num espartilho manequim, sem poder abrir os pulmões, e anda pela rua embonecada a tropeçar a cada passo por causa dos saltos altos exagerados dos sapatinhos muito bicudos.