Conceitos operacionais

Sabemos que, certos conceitos operacionais que dizem respeito ao homem, uns lhe são próprios, outros são comuns a todos os seres vivos, outros, enfim, são os da química, da física e da mecânica.

Há tantos sistemas diferentes de conceitos como de andares na organização da matéria viva. Ao nível das estruturas electrónicas, atómicas e moleculares, que existem nos tecidos do homem como nas árvores ou nas nuvens, é necessário empregar os conceitos de espaço/tempo, de energia, de força, de massa, de eutropia.

E ainda os de tensão osmótica, de carga eléctrica, de ion, de capilaridade, de permeabilidade, de difusão.

Ao nível dos agregados materiais maiores do que as moléculas aparecem os conceitos de micela, de dispersão, de absorção, de floculação.

Edificadas as células pelas moléculas e pelas combinações, e associadas as células em órgãos e organismos, é necessário acrescentar os conceitos precedentes, os de cromossoma, de gene, de hereditariedade, de adaptação, de tempo fisiológico, de reflexo, de instinto…

São os conceitos fisiológicos propriamente ditos. Coexistem com os conceitos físico-químicos, mas não lhe são redutíveis.

No mais alto plano de organização há, além dos electrões, átomos, moléculas, células e tecidos, um conjunto formado de órgãos, de humores e de consciência.

Os conceitos físico-químicos e fisiológicos tornam-se insuficientes. É preciso acrescentar-lhes os psicológicos, que são específicos do ser humano, tais como a inteligência, o senso moral, o senso estético e o social.

Às leis da termodinâmica e às da adaptação, por exemplo, somos forçados a acrescentar os princípios do mínimo esforço para o máximo do prazer, a busca da liberdade, da igualdade…

Cada sistema de conceitos não pode empregar-se legitimamente senão no domínio da respectiva ciência.

Os conceitos da física, da química, da fisiologia, da psicologia, são aplicáveis aos planos sobrepostos da organização corporal.

Mas os conceitos apropriados a um plano não devem ser confundidos com os que são específicos do outro.

Por exemplo, a segunda lei da termodinâmica, indispensável no plano molecular, é inútil no plano psicológico, onde se aplica o princípio do menor esforço para o máximo prazer.

Os conceitos da capilaridade e de tensão osmótica não esclarecem os problemas de consciência.

A aplicação de um fenómeno psicológico em termos de fisiologia celular ou de mecânica electrónica não passa dum jogo verbal. E, contudo, os fisiologistas do século XIX, e os seus sucessores que ainda permanecem entre nós, cometeram esse erro, tentando reduzir o homem inteiro à físico-química. Essa generalização injustificada de noções exactas foi obra de sábios demasiado especializados. É indispensável que cada sistema de conceitos conserve o seu lugar respectivo na hierarquia das ciências.