Actividades mentais - II

Todos nascem com capacidade intelectual diferente. Mas, grande ou pequena, essa capacidade, para que possa manifestar-se, precisa dum exercício constante, assim como de certas condições de meio mal definidas.

A observação completa e profunda das coisas, o hábito do raciocínio exacto, o estudo da lógica, a utilização da linguagem matemática, a disciplina mental, aumentam a capacidade intelectual.

Pelo contrário, a observação incompleta e apressada, a passagem rápida duma impressão a outra, a multiplicidade das imagens, a ausência de regra e de esforço, impedem o desenvolvimento do espírito.

É fácil verificar como são pouco inteligentes crianças que vivem no meio da multidão, entre muitas pessoas e acontecimentos, em barracas e automóveis velhos e abandonados, no tumulto da rua e nas escolas em que se desconhece a concentração intelectual.

Outros factores há, que facilitam, ou entravam, o desenvolvimento da inteligência. Encontram-se sobretudo no género de existência e nos hábitos alimentares. Contudo, os seus efeitos são mal conhecidos.

Dir-se-ia que a superabundância de alimentação e a prática excessiva dos desportos impedem o progresso psicológico. Os atletas são, em geral, pouco inteligentes.

É provável que, para atingir o seu mais alto nível, o espírito reclame um conjunto de condições que só ocorrem em certas épocas e em certos países.

A humanidade nunca procurou descobrir a natureza destas condições. Ignora-se quase totalmente a génese da inteligência. E supomos que o espírito das crianças pode ser desenvolvido pelo mero treino da sua memória e pelos exercícios realizados nas escolas.

Por si só, a inteligência não é capaz de engendrar a ciência, mas é um elemento indispensável para a sua criação.

A ciência, por sua vez, fortifica a inteligência. Por ela, a humanidade foi enriquecida com uma nova atitude intelectual, a certeza proveniente da observação, da experiência e do raciocínio.

Tal certeza é bem diferente do que dá a fé, Esta é mais profunda, e não há argumentos que a possam abalar; assemelha-se à que é dada pela vidência. E, coisa estranha, não é alheia à construção da ciência.

É evidente que as grandes descobertas científicas não são unicamente obra da inteligência. Os sábios de génio, além do dom de observar e de compreender, possuem outras qualidades, como a intuição e a imaginação criadora.

Por meio da intuição, apreendem o que os outros humanos não vêem, apercebem relações entre fenómenos aparentemente isolados, sentem inconscientemente a presença do tesouro ignorado.

Todos os grandes homens são dotados de poder intuitivo. Sabem, sem raciocínio e sem análise, o que lhes importa saber. Um verdadeiro chefe não precisa, para escolher os seus subordinados, de testes psicológicos nem de fichas de informação.

Um bom juiz sabe, sem se perder nos pormenores dos argumentos legais, e até mesmo por vezes apoiando-se em falsos considerandos, dar uma sentença justa.

Um grande sábio orienta-se espontaneamente na direcção em que há uma descoberta a fazer. É a este fenómeno que se dava outrora o nome de inspiração.