A doença

A doença é uma desordem funcional e estrutural. A variedade dos seus aspectos é tão grande como a das nossas actividades orgânicas.

Há diversas doenças, mas o corpo doente mantém a mesma unidade que no normal; todo ele está doente, porque não há doença que fique estritamente confinada num único órgão.

Pela velha concepção anatómica do ser vivo, os médicos foram levados a fazer da doença uma especialidade. Só aqueles que conhecem o homem nas suas partes e no seu todo, e sob o seu triplo aspecto anatómico, fisiológico e mental, podem compreendê-lo quando está doente.

As doenças dividem-se em duas grandes categorias: as infecciosas ou microbianas, e as degenerativas.

As primeiras são provocadas pela penetração no corpo de vírus e bactérias. Os vírus são seres pequeníssimos e invisíveis, pouco maiores do que uma molécula de albumina. São capazes de viver no interior das células; preferem os elementos do sistema nervoso, os da pele e os das glândulas, que matam, ou cujas funções modificam. Determinam a paralisia infantil, a gripe, a encefalite letárgica…, assim como a raiva, a febre-amarela e talvez o cancro. Por vezes transformam células inofensivas, como por exemplo os leucócitos da galinha, em inimigos devoradores, que invadem os órgãos em alguns dias e matam o animal. Estes seres são desconhecidos. Nunca se vêm. Apenas se manifestam pela sua acção sobre os tecidos.

Perante eles, as células não têm meios de defesa, não opondo mais resistência à sua passagem do que as folhas duma árvore ao fumo. Comparadas aos vírus, as bactérias são verdadeiros gigantes. Contudo penetram com facilidade no nosso corpo pela mucosa intestinal, pelo nariz, pelos olhos ou garganta, ou pela superfície duma ferida. Não se instalam no interior das células, mas sim à sua volta. Atacam os tecidos que seguram os órgãos. Multiplicam-se debaixo da pele, entre os músculos, as cavidades do abdómen, nas membranas que envolvem o cérebro e a espinal-medula, podendo invadir também o sangue. Segregam substâncias tóxicas na linfa intersticial e espalham a desordem em todas as funções orgânicas.

As doenças degenerativas são frequentemente consequências das doenças microbianas, como acontece em certas afecções do coração e no mal de Bright. Muitas vezes também são causadas pel presença no organismo de substâncias tóxicas p+rovenientes dos próprios tecidos. Quando a glândula tiróide fabrica tais substâncias, aparecem os sintomas da papeira exoftálmica.

Certas doenças podem também ser produzidas pela paragem das secreções indispensáveis à nutrição.

É assim que a insuficiência das glândulas endócrinas, da tiróide, do pâncreas, do fígado, da mucosa gástrica, produz doenças como o mioxoedema, a diabetes, a anemia perniciosa…

Outras doenças são determinadas pela carência de vitaminas, sais minerais e metais, que são necessários para a constituição e conservação dos tecidos. Quando não recebem do meio exterior os materiais de que precisam, os órgãos perdem a resistência aos micróbios, desenvolvem-se mal, fabricam venenos. Há, finalmente, doenças que frustraram, até hoje, todos os esforços dos investigadores. Entre elas encontram-se o cancro, a doença de Alzheimer, assim como uma infinidade de afecções nervosas e mentais.