Dados de base - I

Graças à anatomia, à fisiologia, à psicologia e à patologia, a medicina possui as bases essenciais do conhecimento do homem.

Ser-lhe-ia fácil alargar o seu campo e abarcar, além do corpo e da consciência, as suas relações com o mundo material e mental, ir buscar os elementos necessários à sociologia, e tornar-se ciência por excelência do ser humano.

Desenvolver-se-ia ao ponto de não só curar ou evitar as doenças, como também dirigir todas as nossas actividades orgânicas, mentais e sociais.

Assim compreendida, permitir-nos-ia construir o indivíduo segundo as regras da sua própria natureza.

Seria a inspiradora daqueles a quem caberá a missão de conduzir a humanidade para a verdadeira civilização.

A educação, a higiene, a religião, a construção das cidades, a organização política, social e económica da sociedade, estão hoje confiadas a pessoas que só conhecem um aspecto do homem.

Pareceria insensato substituir os engenheiros das fábricas de metalurgia ou de produtos químicos, por políticos, juristas, professores ou filósofos.

É, contudo, a tais pessoas que se confia a direcção, infinitamente mais difícil, da formação fisiológica e mental dos homens civilizados, e até o governo das nações, a começar pelas maiores.

A medicina, desenvolvida ainda para além da concepção de Descartes, tornada ciência do homem, poderia dar à sociedade moderna engenheiros que conhecessem os mecanismos do ser humano e as suas relações com o mundo exterior.

Esta superciência só será utilizável se, em vez de ficar enterrada nas bibliotecas, verificar a nossa inteligência.

Mas poderá um cérebro humano assimilar essa enorme quantidade de conhecimentos? Haverá homens capazes de conhecer bem a anatomia, a fisiologia, a química, a psicologia, a patologia, a medicina, e de possuir ao mesmo tempo as noções profundas da genética, química alimentar, pedagogia, estética, moral, religião, economia política e social?

Parece que pode dar-se resposta afirmativa a esta pergunta.

A aquisição de todas estas ciências não é impossível a um espírito vigoroso.

Exigiria cerca de vinte e cinco anos de estudos ininterruptos.

Aos cinquenta anos, aqueles que tiverem tido a coragem de se submeter a esta disciplina serão provavelmente capazes de dirigir a construção de seres humanos e duma civilização feita realmente para eles.

Na verdade, será necessário que estes sábios renunciem aos hábitos vulgares da existência, talvez ao casamento e à família.