Individualidade psicológica

A individualidade psicológica sobrepõe-se à dos humores e à dos tecidos. Depende destas na medida em que a actividade mental depende dos processos cerebrais e das outras funções orgânicas.

É ela que nos dá a unidade, e faz que sejamos nós próprios e não outrem.

Dois gémeos idênticos, provenientes do mesmo ovo, possuindo a mesma constituição genética, manifestam cada um a sua personalidade.

Os homens distinguem-se mais uns dos outros pela sua inteligência e pelo seu temperamento do que pelas suas funções fisiológicas.

Cada um deles é definido pelo número das suas actividades psicológicas, assim como pela sua intensidade e pela sua qualidade.

Não existem indivíduos idênticos mentalmente, embora os que possuem uma consciência rudimentar se assemelhem muito uns aos outros.

Quanto mais rica é a individualidade, maiores são as diferenças individuais.

É raro que todas as actividades da consciência tenham igual desenvolvimento num mesmo indivíduo. Na maior parte, numas ou outras estão ausentes ou enfraquecidas.

Há uma diferença considerável, não só na sua quantidade como na sua qualidade. Além disso, o número das suas combinações é infinito. Nada é mais difícil de conhecer do que a constituição de dado indivíduo. Sendo estrema a complexidade da personalidade mental, e insuficientes os testes psicológicos, é impossível estabelecer uma classificação exacta dos seres humanos.

É, contudo, possível dividi-los em categorias, segundo as suas características intelectuais, afectivas, morais, estéticas e religiosas, e consoante a combinação destas entre si, e com os caracteres psicológicos.

Há também relações claras entre os tipos psicológicos e morfológicos. O aspecto físico dum indivíduo é um índice da constituição dos seus tecidos, humores e espírito.

Entre os tipos mais característicos, há muitos intermediários. As classificações possíveis são quase inumeráveis e, portanto, de pouco valor.

Classificam-se os indivíduos em intelectuais, sensitivos e voluntários. Em cada uma das categorias, há os hesitantes, os contrariantes, os impulsivos, os incoerentes, os fracos, os dispersos, os inquietos, os senhores de si, os íntegros e os equilibrados.

Entre os intelectuais encontram-se os mais diversos grupos. Há os espíritos largos, cujas ideias são numerosas, que assimilam, coordenam e unem os elementos mais variados; há os estreitos, incapazes de apreender conjuntos vastos, mas que penetram profundamente nas minúcias duma especialidade.

A inteligência precisa e analítica é mais frequente do que a capaz de grandes sínteses.

Há também o grupo dos lógicos e dos intuitivos. É este último que fornece a maior parte dos grandes homens.

Observam-se numerosas combinações dos tipos intelectual e afectivo. Os intelectuais são emotivos, apaixonados, empreendedores, mas também cobardes, irresolutos e fracos. Entre eles, o mais fraco é o tipo místico.

A mesma multiplicidade de combinações aparece nos grupos de tendências morais, estéticas e religiosas. Semelhante classificação mostra-nos apenas a prodigiosa variedade dos tipos humanos, como afirma George Dumas, no seu Traité de Psychologie.

O estudo da individualidade psicológica é tão infrutuoso como seria o da química, se os corpos simples fossem em número infinito.