O chá

Se para fazerem o café se reduzem a pó as sementes gémeas do cafezeiro, para se obter o chá secam-se as folhas duma planta da china, denominada, na nomenclatura fitológica, Thea Sinensis, de Lineu.

Mal se podem imaginar os malefícios da bebida resultante do infuso dessas folhas, enroladas e odoríferas, folhas aparentemente inofensivas, que, do Oriente, invadiram as terras europeias e sujeitaram as populações à sua escravidão dourada, desde o século XVII em diante.

Depois dessa época, em que os portugueses o trouxeram nas suas naus aventurosas, para regalo dos reis e príncipes desse tempo heróico, o chá tem ganho tanto terreno na sociedade, que se tornou, por assim dizer, um dos piores hábitos das senhoras, sem deixar de prender no seu domínio os homens.

É rara a casa pobre ou remediada onde não haja a competente caixa de chá – hoje de todas as espécies imagináveis – o qual a princípio foi considerado remédio santo, e hoje está condenado, pela razão esclarecida de todos os higienistas sabedores.

O chá, que pode ser verde ou preto, conforme a maneira de ser preparado, e que segundo as qualidades, tem diversos nomes em chinês e português, é considerável pelo seu princípio activo, que se chama “teína”, alcalóide com o mesmo efeito perturbador do café, negro como o azeviche, e azedo como a triaga.

O chá, com a sua cor de topázio, distingue-se do café, seu próximo parente, unicamente pela cor. No seu íntimo estão condensados tantos óleos e taninos desagradáveis, que também foi preciso recorrer ao intoxicante açúcar simulador para que aprouvesse ao paladar humano.

Quem bebeu desde criança, imagina-se até nobiliárquico com tal atributo simbólico, passando por ser correlativo da boa educação.

O chá vale só como comércio. Que muita soma de dinheiro vai para o estrangeiro por tal artigo! De resto, para a raça, o chá é um dos agentes degenerativos mais intensos, porque perturba e excita quem o usa.

Não podendo a resistência orgânica com tal acicate contínuo e intensificado, as pessoas que tomam chá tornam-se irritáveis, padecem de enxaquecas, adquirem uma cor terrosa e apressam a velhice.

O chá é considerado como um dos factores etiológicos do cancro, a terrível doença que tantos estragos causa, sobretudo no sexo feminino, atacando de preferência os órgãos da maternidade, quase sempre lesados por defeitos, partos e laxações frustes. “Sopinhas de chá! Dão as mães ignorantes aos filhos tenros, quando, com os peitos sem gota de leite, nada mais lhes ensinam a dar as comadres abelhudas.

Chá com bolos, tomam por snobismo, as pessoas elegantes no o’clock teas de todas as horas. Chá tomam as senhoras de idade, quando o estômago está atulhado e não digerem as pançadas.

O chá é uma bebida tóxica, que deve ser substituída pelo chá de tília, de cidreira, de figos para quem queira usar esses semi-venenos ainda. Uma boa laranja ou qualquer outro fruto sumarento, é o melhor chá digestivo e refrescante. É o chá da natureza!