O futuro numa receita

Dispor duma vacina contra a doença de Alzheimer, a sida, o cancro do pulmão, o paludismo, as alergias alimentares… Não é uma realidade hoje, mas já não é uma utopia para amanhã. O medicamento entrou numa nova era, a das biotecnologias. Um termo científico que engloba uma variedade de técnicas tendo por ponto comum a manipulação de organismos vivos.
Descobrindo o ADN, elucidando a sua estrutura, os pesquisadores descobriram novas vias terapêuticas. Compreendem melhor o funcionamento do corpo humano, mas também os mecanismos moleculares das doenças. Sabem quais são os genes, as proteínas, as enzimas que intervêm num processo patológico e como interagem.
Este conhecimento fornece-lhes armas para desenvolver tratamentos que imitam o arsenal defensivo empregue pelo organismo, manipulando os genes, sintetizando as proteínas, as enzimas, os anticorpos e outras substâncias produzidas pelo nosso corpo para combater as doenças. Foi assim que o primeiro medicamento saído das biotecnologias apareceu em 1984. Após ter identificado o gene implicado na produção da insulina, os pesquisadores conseguiram reconstituir artificialmente este processo para produzir a “insulina humana”. Desde então, o produto administrado aos diabéticos é a réplica exacta da insulina fabricada pelo nosso organismo e não mais insulina extraída do pâncreas do porco, como era antes.
Mais duma centena de tratamentos nascidos deste conceito, chamado “proteínas recombinadas” estão hoje disponíveis no mercado. Tratam particularmente a anemia, as deficiências do crescimento nas crianças, a hemofilia…
Quatrocentos outros estão em fase de estudo clínico. È um exemplo e há outros…até ao mais ínfimo. Os pesquisadores agem sobre as proteínas codificadas pelos genes, a fim de as activar ou de as bloquear para deter o processo que conduz a uma patologia. O remédio tem um nome esquisito: anticorpo monoclonal. São as proteínas específicas, produzidas pelo sistema imunitário para destruir os agentes infecciosos, que os cientistas transformaram em moléculas capazes de visar uma célula e de agir unicamente sobre ela.
O interesse é evidente. Nos tratamentos actuais do cancro, os produtos químicos utilizados destroem as células sem fazer distinção entre as que estão sãs e as atingidas. O anticorpo monoclonal é destinado a intervir apenas sobre a célula cancerosa.
Outra revolução em curso é a farmacogentética. Toma em conta a maneira como os indivíduos reagem aos tratamentos medicamentosos em função das suas particularidades genéticas. O fim é o de conseguir encontrar o perfil genético dos pacientes e de lhes propor doses adaptadas às suas necessidades. Já para o tratamento do cancro da mama, testam a presença duma proteína, a HER-2, à superfície das células, devendo administrar um tratamento que bloqueie a sua acção. Outras pistas são exploradas para tentar identificar, graças ao ADN, as pessoas com necessidade duma quimioterapia específica, após uma intervenção cirúrgica. Assim, passo a passo as pesquisas abrem a via a uma medicina personalizada que poderá, a prazo, oferecer aos pacientes um tratamento apropriado. Outras aproximações estão em vias de desenvolvimento, como a terapia genica, cujo fim é utilizar o gene como medicamento, onde a terapia celular, destinada a substituir as células doentes por células sãs. Estas células, ditas da esperança, poderão permitir tratar o doente de Alzheimer, de Parkinson, as leucemias…