O meio social

O meio que moldou o corpo e a alma dos nossos antepassados durante alguns milénios foi substituído por outro. Quase insensivelmente acolhemos esta pacífica revolução. E, contudo, ela constitui um dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade, porque qualquer modificação do seu meio se repercute, inevitavelmente, e de modo profundo sobre os seres vivos.

Desde o advento da indústria, grande parte da população confinou-se a espaços restritos. Os operários vivem em rebanhos, seja nos subúrbios das grandes cidades, seja em aldeias para eles construídas.

Estão ocupados em fábricas, a horas fixas, num trabalho fácil, monótono e mal pago. Nas cidades, habitam igualmente os trabalhadores de escritórios, os empregados dos estabelecimentos, dos bancos, das administrações públicas, os médicos e enfermeiros, as assistentes sociais, os advogados, os professores, os padres e a multidão daqueles que., directa ou indirectamente vivem do comércio e da indústria.

Fábricas e escritórios vastos, mal iluminados, por vezes sujos. A temperatura é uniforme. Aparelhos de aquecimento e refrigeração elevam a temperatura durante o Inverno e baixam-na no verão. O mesmo acontece com os hospitais e escolas.

Os altos prédios das grandes cidades transformam as ruas em obscuras trincheiras. Mas a luz do Sol é substituída no interior dos edifícios por uma luz artificial rica em raios ultravioletas.

Em vez do ar poluído da rua, pelos vapores da gasolina, os escritórios e as oficinas recebem ar aspirado ao nível do telhado, nas grandes cidades dos grandes países, estão protegidos contra todas as intempéries. Não vivem como outrora, junto da sua oficina, do seu estabelecimento ou do seu escritório. Os mais ricos vivem em grandes construções das grandes avenidas.

Os reis do mundo possuem, no cume das torres vertiginosas, casas deliciosas rodeadas de árvores, de relva e de flores. Até estão ao abrigo dos ruídos, das poeiras e da agitação, como se estivessem no píncaro duma montanha.

Estão mais completamente isolados do comum dos mortais do que estavam os senhores feudais por detrás das muralhas e dos fossos dos castelos fortificados.

Os outros, até os mais modestos, habitam alojamentos cujo conforto ultrapassa o que rodeava Luís XIV ou Frederico o Grande.

Muitos têm o seu domicílio longe da cidade. Todas as manhãs e tardes, comboios, carros, autocarros, metros transportam uma inumerável multidão para ou dos subúrbios, onde as casas são mais baratas.

Os operários e os mais modestos empregados têm moradias de luxo em bairros sociais ou “ilhas”, mais indignas que as de muitos animais. De quem a culpa?

Os aparelhos de aquecimento, de funcionamento automático, que regulam a temperatura das casas, os refrigeradores, os fogões eléctricos ou a gás, as máquinas domésticas empregadas na preparação dos alimentos e na limpeza da casa, os quartos de banho, a s garagens para os automóveis, dão à habitação de todos, não só nas cidades, mas também nas aldeias, um carácter que dantes só pertencia a raros privilegiados da fortuna.
Porque adoecem então os mais ricos?