Restauração física

Não se consegue fazer uma restauração física senão com o sacrifício. Geralmente aconselha-se uma refeição frugívora e outra de vegetais cozinhados sem sal, tomada sem vinho, chá ou café. É o melhor processo.

Uma criança começa primeiro a andar de gatas, depois de pé amparada, para por fim dar pequenos passos e depois corridas.

Assim sucede ao homem para ingressar na verdadeira alimentação.

Ninguém morre por seguir este regime. Os que comem demais é que vão depressa para o túmulo. E como é económica a vida do frugívoro em certas épocas do ano.

Amendoins crus; como os dá a planta; castanhas cruas; maçãs e também laranjas. Com pouco dinheiro pode almoçar-se, com o mesmo dinheiro se janta.

É necessário, porém, estar habituado para assim viver. E que independência. Mesmo a andar se come, sem perder tempo nos ademanes e rituais da mesa. Come-se bem de pé; comer sentado é mau, porque produz congestões nos órgãos abdominais e provoca a superalimentação.

Comer a andar é excelente. Quantas vezes se almoça pela rua fora, levando num saco de papel laranjas e bananas.

A dieta sem sangue é a ponte de passagem para a dieta sem lume; mas ninguém deve caminhar depressa e sem guia. Pelo contrário, é preciso avançar lentamente e com grande cuidado, sobretudo quando a idade ou a doença servem de estorvo. A natureza não dá saltos bruscos.

A dieta ancestral liberta o homem de todo o perigo de infecção e de doença. Pelo sangue alcalino e microbicida, feito de alimentos edénicos, não há modo de se desenvolverem os micróbios.

Um célebre naturista argentino, Astorga, deixou-se inocular com uma cultura de bacilos da tuberculose. Formou-se um abcesso supurante e, dias depois, fez cinquenta quilómetros a cavalo pela pampa.

Os micróbios não se podem cultivar em sumo de laranja, de maçã ou de ananás. É em caldos de carne ou em geleia que nos laboratórios os preparam.

O homem adoece porque está continuamente a pecar e a arquitectar excitantes. Não valerá mais cultivar a saúde em vez de a estragar em gozos funestos?

Cada prazer insólitos paga-se mais tarde com usura. A dieta ancestral é o pólo a atingir. O que é difícil é os primeiros subirem até esse ponto, porque depois outros lá irão ajudados pela fé.

É difícil, se não impossível, destruir um velho costume, embora se empreguem os meios compatíveis com o raciocínio. O hábito governa, arbitrário e impiedoso, e a sua força é tão grande que se pode amontoar os melhores argumentos, abalar mesmo com razões indestrutíveis, que a rotina vencerá apesar de tudo.

Infere-se disto que de pouco valerá todo o trabalho esclarecedor e sincero, inspirado unicamente pela higiene.

Com o saboroso decocto de cadáver, continuarão todos a deleitar-se, com colheres e colheres de sopa incriminada. Mas cumpre-se assim um dever e fica essa satisfação, já que nada mais nos move nesta incessante e árdua campanha de higiene, trabalhando em prol da saúde humana e social. À semelhança de Tolstoi, que era um vegetariano convicto, advoga-se por um ideal mais avançado – o frugivorismo puro – como o melhor meio de libertar o homem da doença fatal.