Transformação do Universo

A restauração do homem na harmonia das suas actividades fisiológicas e mentais transformará o Universo. Porque o aspecto do Universo varia segundo o nosso corpo.

Não devemos esquecer que ele não é mais do que a resposta do nosso sistema nervoso, dos nossos órgãos sensoriais, e das nossas técnicas, a uma realidade exterior que desconhecemos, e que provavelmente é incognoscível, que todos os nossos estados de consciência, todos os nossos sonhos, tanto o matemáticos como os dos namorados, são igualmente verdadeiros.

As ondas electromagnéticas que para o físico exprimem um pôr de sol não são mais objectivas do que as cores brilhantes a que um pintor é sensível.

O sentimento estético provocado por essas cores, e a medida do comprimento das ondas que as compõem, são dois aspectos de nós próprios, e têm o mesmo direito à existência.

A alegria e a dor são tão importantes como os planetas e os sóis. Mas o mundo de Dante, de Emerson, de Bergson ou de Hale é mais vasto que o de Mr. Babbit.

As dimensões do Universo aumentarão necessariamente com a força das nossas actividades orgânicas e mentais.

Devemos libertar o homem do cosmos criado pelo génio dos físicos e dos astrónomos, desse cosmos em que está encerrado desde a Renascença.

Apesar da sua beleza e da grandeza, o mundo da matéria inerte é demasiado estreito para ele.

Tal como o meio económico e social, não está feito à nossa medida, e não podemos aderir ao dogma da sua realidade exclusiva.

Sabemos que não estamos inteiramente confinados a ele, e que nos prolongamos noutras dimensões para além das de continuidade física.

O homem é ao mesmo tempo um objecto material, um ser vivo, um foco de actividades mentais.

A sua presença na imensidade morta dos espaços interestrelares é totalmente desprovida de importância.

Contudo, o homem está longe de ser um estranho nesse prodigioso reino da matéria em que o seu espírito se move facilmente, graças às abstracções matemáticas.

Mas prefere contemplar a superfície da terra, as montanhas e os rios, o oceano. É feito à medida das árvores, das plantas e dos animais, em cuja companhia se compraz. Mas ainda está mais intimamente ligado às obras de arte, aos monumentos, ás maravilhas mecânicas da cidade moderna, ao pequeno grupo dos seus amigos, àqueles a quem ama. Prolonga-se para lá do espaço e do tempo, num outro mundo.

E deste, que é ele próprio, pode, se assim quiser, percorrer os ciclos infinitos. O ciclo da Beleza, contemplado pelos sábios, pelos artistas e poetas.

O do Amor, que inspira o sacrifício, o heroísmo e a renúncia. O da Graça, recompensa suprema daqueles que apaixonadamente buscaram o princípio de todas as coisas. Tal é o nosso Universo.