Unidade

A unidade de cada homem tem uma dupla origem: deriva ao mesmo tempo da constituição do ovo, de que provém, e da maneira como esse ovo se desenvolveu, da sua história.

Já se falou da fecundação, o óvulo expulsa metade do seu núcleo, metade de cada cromossoma, e portanto metade dos factores hereditários, dos genes, que estão dispostos uns a seguir aos outros ao longo dos cromossomas, e como a cabeça dum espermatozóide se introduz no óvulo depois de também ter perdido metade dos seus cromossomas.

Da união dos cromossomas machos e fêmeas no ovo fecundado deriva o corpo com todos os seus caracteres e tendências.

Nesse momento, o indivíduo não existe senão potencialmente, e contém os factores dominantes que determinam os caracteres visíveis dos seus pais, assim como os factores que durante toda a sua vida se mantiveram inoperantes.

Estes últimos, segundo a sua posição relativa nos cromossomas do novo ser, manifestarão a sua actividade ou serão neutralizados por um factor dominante.

São estas relações que a ciência da genética descreve como leis da hereditariedade.
Essas leis não exprimem senão a maneira como se estabelecem os caracteres imanentes do indivíduo. Mas estes não são mais do que tendências, potencialidades.

Podem utilizar-se ou permanecer virtuais segundo as condições que o embrião, o feto, a criança e o adolescente encontrem no seu desenvolvimento.

E a história de cada indivíduo é tão singular como a natureza e o arranjo dos genes do ovo de que provém. A originalidade do ser humano depende, pois, igualmente da hereditariedade e do desenvolvimento.

Se sabemos que provém destas duas origens, ignoramos, contudo, qual a parte de cada uma da nossa formação.

A hereditariedade será mais importante do que o desenvolvimento, ou inversamente?

Watson e os behavioristas proclamam que a educação e o meio são capazes de modelar qualquer ser humano com a forma que desejamos.

A educação seria tudo, a hereditariedade nada.

Por outro lado, os geneticistas pensam que a hereditariedade se impõe ao homem à semelhança do fátum dos antigos, e que a salvação da raça não se acha na educação, mas sim no eugenismo.

Uns e outros esquecem que o problema se resolve, não com argumentos, mas por meio de observações e de experiências.